O projecto A Música Secreta de Vicente Lusitano tem por objectivo a dar a conhecer os motetos da colecção Liber Primus Epigramatum, publicada em 1551 em Roma, através da circulação em concerto e da gravação de uma integral.
Em 2021 o grupo obteve finalmente financiamento para iniciar projecto, ao receber um apoio da DGArtes para gravar todos os motetos a 5 vozes, que representam cerca de dois terços da colecção. Dois álbuns foram gravados em setembro de 2022 e abril de 2023, que serão lançados em 2024 pela prestigiada editora Pan Classics Records.
Em junho de 2023 o grupo foi um dos vencedores do Programa Caixa Cultura, recebendo um apoio que permitirá gravar os restantes motetos, a 6 e 8 vozes. Os concertos e gravações dessa fase vão acontecer durante este mês (julho de 2024), e o lançamento do álbum para 2025.
Para além do financiamento da DGArtes, Caixa Geral de Depósitos e Fundação GDA A Música Secreta de Vicente Lusitano tem sido generosamente apoiada por várias entidades que viabilizam a sua execução: DRCN, ESMAE, CESEM, IPP, PORTIC, ANTENA 2.
Vicente Lusitano (ca. 1520 - ca.1561) terá sido o maior compositor português do seu tempo e, possivelmente, de todos os tempos.
A maior parte da sua biografia é desconhecida, e o pouco que sabemos chega-nos através de fontes do século XVII e XVIII estudadas nos tempos modernos por Maria Augusta Barbosa (1977) e Robert Stevenson (1982). Lusitano nasceu em Olivença em data incerta, possivelmente de pai português e mãe angolana, sendo descrito em fontes seiscentistas como “mestiço” e “pardo”. A sua carreira musical é uma colecção de feitos notáveis: é o primeiro compositor negro de que há registo na história da música europeia; teve posições de destaque em Pádua, Viterbo, Roma e, depois de se converter ao protestantismo, Estugarda; a sua colecção de motetos Liber Primus Epigramatum (Roma 1551) é a primeira antologia de um compositor português publicado no estrangeiro; igual distinção tem seu tratado Introduttione facilissima, et novissima, di canto fermo, figurato, contraponto semplice, publicado em Roma em 1553 e reimpresso em Veneza 1561 e Lisboa 1603; alguma da sua música sobrevive em manuscritos dispersos por Espanha, França e Alemanha, em livros de coro associados a importantes capelas e que reúnem obras dos mais célebres compositores seus contemporâneos, atestando assim a sua reputação; entre essas obras inclui-se o moteto Heu Mihi Domine que é, na opinião de alguns especialistas, a obra de mais difícil execução de todo o século XVI. Apesar disso, a sua música é ainda hoje largamente desconhecida, e encontra-se por interpretar e registar discograficamente na maior parte.
Nos meios musicais de hoje, Vicente Lusitano é sobretudo conhecido por ter defrontado o célebre compositor e teórico musical Nicola Vicentino numa célebre disputa teórica ocorrida em Roma em 1551. A divergência de opiniões sobre questões de afinação de alguns intervalos, com detalhes que desafiam os limites da percepção do ouvido humano, foi arbitrada pelos cantores da Capela Papal (uma espécie de Supremo Tribunal da Teoria Musical), e a razão foi dada ao português. Talvez por isto tenha ficado com uma reputação de “músico teórico”, e a atenção dos estudos musicológicos dos últimos 40 anos tenha incidido sobretudo no conteúdo dos seus tratados.
O certo é que a música é sublime, caracterizada por melodias de desenho e prosódia irrepreensíveis agregadas num contraponto denso de grande expressividade, quase anunciando os maneirismos dos compositores das gerações seguintes.
O Liber Primus Epigramatum contém 23 motetos, a grande maioria sobre textos de antífonas e responsórios do ofício de Vésperas. No entanto, o tratamento musical parece afastar-se dos cânticos realizados nessas ocasiões, pelo que dificilmente se destinariam a uma função litúrgica. Mais provavelmente, estes motetos enquadram-se no universo da musica reservata (também chamada musica secreta) – uma prática elitista que surge em Itália e sul da Alemanha na segunda metade de quinhentos, e que consiste num estilo performativo assente na expressão refinada, exclusiva e emocionalmente intensa de um texto cantado, por parte de um grupo pequeno grupo de músicos, e perante um pequeno grupo de ouvintes de grande erudição que, após a execução, encetariam um diálogo sofisticado sobre os atributos poéticos da composição musical.
O uso do termo “epigrama” no título da colecção parece confirmar que estamos perante composições de carácter poético–hermenêutico em torno dos símbolos de cada texto, provavelmente destinados à contemplação espiritual dos patrões de Lusitano no contexto das suas capelas privadas. Esta prática - escuta enquanto prática espiritual - foi bastante explorada em meados de quinhentos nas recém-criadas Accademie Filarmoniche do norte e centro de Itália. Algumas dessas academias continuam a existir nos nossos dias, e os seus arquivos e colecções musicais testemunham a convivência entre vozes e instrumentos (em particular as flautas) na execução de reportórios análogos aos motetos de Lusitano. É pensando nesse modelo que propomos uma interpretação com um cantor por parte, acompanhados por um consort de flautas, cópias exactas de instrumentos venezianos de ca. 1550 e com uso documentado em academias de Viena e Verona.
Fundada em 2011 por Pedro Sousa Silva, Arte Minima é um projecto dedicado à interpretação de música dos séculos XV, XVI e XVII, com especial relevo para a produção musical portuguesa desses períodos. Os métodos de trabalho empregues pelo grupo assentam em modelos explorados no âmbito de investigação académica, e que procuram transferir para o século XXI ferramentas de aprendizagem e interpretação musical oriundas do renascimento. O trabalho interpretativo é feito directamente a partir das fontes originais, sem a mediação de transcrições modernas, e a perspectiva filológica estende- se a todos aspectos (teoria, instrumentos, afinações, etc.) numa procura incessante de uma maior compreensão das linguagens musicais do passado.
Dos concertos realizados pela Arte Minima, destacam-se as participações no Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, Temporada Música em São Roque, Festival de Sons de Almada Velha, ou Música na Primavera de Viseu, quase sempre com programas em torno de obras do renascimento português executadas em primeira audição moderna.
Em 2021, o grupo realizou o álbum In Splendoribus contendo 15 composições inéditas associadas à produção musical das Sés de Braga e Porto durante o século XVI (projecto apoiado pela DRCN).
Entre 2023 e 2025 editará na prestigiada editor Pan Classics um novo disco com música de Francisco de Santa Maria (projecto apoiado pela Fundação GDA e realizado em cooperação com o CESEM-UNL) e três com a integral dos motetos da colecção Liber Primus Epigramatum, de Vicente Lusitano (projectos financiadaos pela DGArtes e Caixa Cultura).
Os projectos da Arte Minima têm contado com o apoio da DRCN, Fundação GDA, DGArtes, CESEM, ESMAE-IPP, Instituto Politécnico do Porto, PORTIC - Porto Research, Technology & Innovation Center, DRCN e Antena 2. Em 2023, o grupo ganhou concursos dos programas Criatório (Câmara Municipal do Porto) e Caixa Cultura (CGD) para projectos a realizar em 2024.
Pedro Sousa Silva - flautas e direcção musical
Irene Brigitte - cantus
Maria de Fátima Nunes- cantus
David Hackston - altus
Nuno Raimundo - tenor
Ricardo Leitão Pedro - tenor
Pedro Marques - tenor
Miguel Barreirra - bassus
Luis Neiva - bassus
António Godinho - flautas
Carlos Sánchez - flautas
João Távora - flautas
Silvia Cortini - flautas
Rita Rodríguez García - flautas
Moisés Maroto - flautas
Tiago Simas Freire - flautas
Susanna Borsch - flautas
Rosa Lopes Dias - produção executiva
Marco Conceição - produção áudio
Tomás Quintais - produção audio-visual
Elisabete Moreira - assistente de produção áudio
Renata Lima - assistente de produção áudio
João Pedro d'Alvarenga - consultor musicológico e direcção artística nas gravações
António Cucu - consultor linguístico, revisão e tradução dos textos latinos.
Informações e Agendamento
arteminima.org
pedrosousasilva@arteminima.org
Pedro Sousa Silva +351 939 854 832
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